Depois de se apresentar em cidades de Minas Gerais, pelo sertão e Zona da Mata de Pernambuco e Alagoas, em Maceió,
Aracaju e Salvador, no Teatro Municipal de São Paulo e em munícipios do Paraná, na Biblioteca Mário de Andrade da
capital paulista, o grupo Rodateatro mostra sua versão cênico-musica literária da obra prima de Graciliano Ramos no Ponto de Luz.
OBRA
Infância é a transcrição cênica e musical a partir do livro homônimo de Graciliano Ramos, publicado em 1945. Nestas memórias, o alagoano traz à tona seus primeiros anos de vida até o despertar da puberdade vividos no interior dos Estados de Alagoas e Pernambuco.
Em meio à dura vivência com a família e marcado por uma difícil alfabetização, surge página a página uma criatura interessada nos vários personagens à sua volta e no mundo das letras. Meninice que não inspira nostalgia e que tem estreita relação com obra do escritor como um todo e tudo aquilo que ela denuncia, criando uma movimentação entre
as vozes da criança e a daquele que a rememora. Esse jogo literário que acumula temporalidades (as diferentes idades do menino e a perspectiva do adulto) é explorado na adaptação à cena que, ao priorizar a falta de trato familiar, a precariedade do ambiente escolar e as dificuldades sofridas pelo garoto no letramento, cria um constraste epifânico, uma vez que aquele que passa a vislumbrar novas paisagens a partir da aproximação aos livros se tornará (ao mesmo tempo que já é) um de nossos maiores escritores.
PESQUISA
Em dezembro de 2021, Ney Piacentini (ator que também pertence a Companhia do Latão de São Paulo) e Alexandre Rosa (músico da Osesp [Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo] principal conjunto sinfônico da América Latina), foram até o sertão de Pernambuco e Alagoas, em busca dos espaços onde se dão os episódios de Infância e de seu mundo sensorial. Passaram por Quebrangulo, Viçosa, Palmeira dos Índios (AL) e Buíque (PE). Lá conheceram a aridez e a pulsação da gente do sertão e da Zona da Mata nordestinos. Visitaram as ruas citadas no livro, as casas em que Graciliano viveu, e
puderam conviver e conversar com os “viventes” locais. Além dessa viagem de imersão e da leitura das obras completas do autor, a pesquisa contou ainda com quatro palestras proferidas por especialistas como Ieda Lebensztayn, Ivan Marques, Leusa Araujo e Luciana Araujo Marques.
ENCENAÇÃO
Conhecido por seu estilo “seco”, nosso autor se utiliza apenas das palavras e frases essenciais, e a encenação segue na mesma direção. A montagem é simples, porém inventiva: a cenografia é feita de objetos imprescindíveis ao palco, com sofisticados instrumentos musicais que se transformam, por meio de sugestões indiretas, na indumentária do projeto. O trabalho está planejado de modo a facilitar a adaptação às condições materiais dos espaços e não o contrário. E o programa engloba a encenação (de 60 minutos), seguida de uma conversa sobre o universo de Graciliano Ramos. Entram em
debate os conteúdos, as formas, as demais obras do autor, sua inserção no panorama da história e literatura brasileiras, além de outros aspectos de interesse da plateia. Haverá ainda a apresentação do processo de construção do espetáculo, especulando sobre como Ney Piacentini (ator) e Alexandre Rosa (músico) deram vida cênica ao Infância. Trazer ao palco um dos livros mais importantes de Graciliano Ramos tem a intenção de estimular a leitura e a formação de público na conjugação entre literatura, teatro e música.
FICHA TÉCNICA
Autor: Graciliano Ramos
Idealização e adaptação: Ney Piacentini
Concepção e direção: Ney Piacentini e Alexandre Rosa
Interpretação: Ney Piacentini (atuação) e Alexandre Rosa (músico)
Assistente de direção e iluminação: Elis Martins
Fotos e vídeos: João Maria Silva Jr.
Programação visual: Paulo Fávari.
Assistente de produção: Gisela Reimann
Debatedora: Luciana Araujo Marques
www.rodateatro.wordpress.com.br