Meu nome é Estevan Sinkovitz, eu sou músico. Trabalho profissionalmente com música há exatos 20 anos, mas isso está longe de definir o que a música representa na minha vida. Desde que eu me lembro da vida, a música estava lá. Tenho memórias claras de engatinhar pelos tacos de madeira da sala de casa, de debruçar nos discos para levantar e de ver a vitrola girar ao som do Powerhouse do Deep Purple. A música sempre foi o principal elo de ligação com meu pai, que se separou da minha mãe quando eu tinha ainda 4 anos. Era através dela que a gente se conectava quando se encontrava, ouvindo discos, recebendo de presente fitas com o que ele gostava de ouvir gravado, vendo-o tocar guitarra, violão e cavaquinho. Aliás, foi no cavaquinho que comecei a me aventurar aos 6 anos de idade:meu pai me passou alguns temas de choros instrumentais que ele adorava ouvir e tocar e assim foi que eu
deixei os brinquedos de lado e a música passou a ser minha brincadeira. Na verdade, ela era meu refúgio, minha salvação, a linguagem que eu queria aprender pra conseguir falar o que eu não conseguia com as palavras. Aos 11 anos, depois de muita insistência, meu pai me deu uma guitarra. Não qualquer guitarra, era a guitarra que ele tinha quebrado no palco em seu último show.
Aquela que tinha passado anos fechada num case no estúdio do meu tio (que, coincidentemente, também é músico) e que chegou em minhas mãos sem funcionar. Deste dia em diante minha vida foi tocar guitarra. Mesmo com ela desligada, passava o dia em minhas mãos. Logo achei amigos do bairro e até o mais antigo chegou junto no interesse pelo som. Montamos dezenas de bandas e tudo na nossa adolescência girava em torno da música – tocando, ouvindo, era nossa linguagem, nossa identidade, nossa voz. A vida adulta se aproximou e a pressão social também, então peguei um desvio no caminho
e fui estudar Propaganda e Marketing e trabalhar como diretor de arte. Tentei levar esse caminho pra frente até que meu pai faleceu em 2001. Ali ficou claro que eu tinha que parar tudo que estava fazendo para viver de música, para viver “A música” foi o que fiz. Com a ajuda imensurável de amigos e profissionais da área, consegui desenvolver minha carreira de músico fazendo e dirigindo shows, acompanhando artistas, gravando e produzindo discos, fazendo trilhas,, mas tinha um lance que tava dormindo enquanto eu fazia tudo isso que era tudo o que a música representa para mim fora da esfera do
sistema.
Em 2019 tive uma situação muito complicada de saúde, e, em seguida, veio a pandemia de covid-19, que fez com que minha profissão parasse por tempo indeterminado. Em meio a todo esse caos, minha filha de 6 anos foi diagnosticada com diabetes tipo 1. Aí, esse lugar da música que ficou adormecido por todos esses anos de profissão clamou seu espaço. Ela voltou a ser meu refúgio, meu lugar de cura e meu objeto de pesquisa. Mergulhei de cabeça no repertório da música ambiente e através de um músico alemão genial chamado Klaus Wiese, entrei em contato com os gongos tibetanos. Estava também lendo muito sobre frequências e suas relações com o equilíbrio da saúde. Por meio da obra de autores como Rife, Tesla, Schumann. Mergulhei profundamente na música feita de forma ritual, entrei em contato com o canto polifônico dos monges tibetanos de Gyuto, me conectei com sonoridades que viajaram o mundo com os ciganos, e com o rastro que elas foram deixando pelos caminhos: Balkans, Índia, Turquia, Mongólia, Tatar, Tibet, também Hungria e Espanha de meus antepassados. Foi essa música que me fez enxergar tb o meu caminhar para o lugar onde precisava ir com o meu som. Peguei o violão de aço e procurei uma afinação que me afinasse com o mundo.
Cheguei, depois de muita pesquisa, em uma combinação em que 5 cordas tem a mesma nota e a primeira corda está uma quinta acima das outras. Com pequenas variações entre a cordas que estão em uníssono, inspirado na teoria das ondas binaurais e o efeito que elas têm sobre a glândula pineal, cheguei em uma afinação que me conectou com melodias que já moravam dentro de mim há muitas existências, mas que ainda não havia conseguido uma plataforma para expressar. Assim comecei a desenvolver uma Suíte musical baseada em um modo melódico que chegou com essa nova afinação em meus ouvidos. Intenciono com essa suíte ritual, que estas frequências entrem em ressonância com o que vibra em torno de mim enquanto toco para, assim, me conectar com o invisível, indizível, impensável. É esta a proposta da Suíte Modal para Violão Preparado: uma pequena abertura no espaço-tempo para me conectar com o entorno e devolver o que recebo em forma de amor e som.
Atuando profissionalmente no mercado da música desde 2001, Estevan Sinkovitz já trabalhou em shows, gravações e projetos especiais com diversos artistas, como Arnaldo Antunes, Otto, Marcelo Jeneci, Ana Cañas, China, Maria Alcina, Jair Rodrigues, Vânia Abreu, Gero Camilo, Rubi, Guilherme Kastrup, Chico Salem, Rich Latimer (Australia), dentre muitos outros. Fez a direção musical do espetáculo Poder Supremo, do artista Bruno Morais e do show que reproduziu na íntegra o disco Frevo Mulher, de Amelinha, no Teatro Municipal de São Paulo. Compôs também trilhas sonoras para circo e teatro, como dos espetáculos Bloom (Cia Lamala) e Cidade Desnuda (Cia Esporos de Experimentações) e trilhas e jingles para clientes como Caixa Econômica Federal, Resort Costão do Santinho e Festival Voz. Produziu discos de diversos artistas, como Nem toda pausa é espera, de Rubi, Proponhomix e Nano-A-Yokto de Luiz Gayotto, Tremor Essencial, de Celso Sim (junto com Guilherme Kastrup), Satan’s Gonna Like It, Dispassion e Love, Martyrs and Archetypes, de Voodoo Shyne, dentre outros. Fez a direção musical do disco De Primeira Grandeza, onde a cantora Amelinha interpretou a
obra de Belchior. Trabalha também com mixagem e masterização em seu espaço Lichen Ideias Sonoras, onde masterizou álbuns como Tudo que eu tenho (Galiza e Architect of Love), IN-PLAZA (Architect of Love), o disco da Banda Del Rey, além de ter masterizado singles de artistas como Barbarelli,
Maya e Felipe S. Mixou e masterizou os álbuns Love, Martyrs and Archetypes (Voodoo Shyne) e o EP Hecatombe, da banda santista Fizeram a Elza,
além de ter mixado diversas faixas de artistas como Leo Freitas e do projeto Ambulância, de Pedro Strelkow (Berlin).É integrante do Marrero, banda que fez parte do casting do projeto Skol Music, no selo de Carlos Eduardo Miranda, já tendo se apresentado em festivais como Lollapalooza Brasil e João Rock. Tem também um trabalho solo de música instrumental experimental sob o pseudônimo de István, com diversos lançamentos na plataforma Bandcamp e está finalizando um álbum de música instrumental com seu tio, o maestro, produtor e músico Armando Sinkovitz. Atualmente desenvolve uma pesquisa com afinações no violão de aço que deram forma a uma Suíte Modal para violão preparado, obra instrumental inspirada na música ritual.